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Um estado duas polícias

Governo criou uma nova força policial para combater os protestos contra o Regime Militar.

Wagner Santos

Hoje a segurança pública mantida pelo estado é dividida entre a Polícia Militar e a Polícia Civil. A PM faz o patrulhamento ostensivo nas ruas e a Polícia Civil cuida da investigação de crimes e instalação dos inquéritos.

Se hoje as forças policiais de São Paulo se dividem entre o patrulhamento e a investigação, durante a ditadura foi criado um grupo dentro da PM específico para coibir e prender quem protestasse ou falasse mal do governo.

O PM aposentado Davi Fierz, conta que as duas forças faziam parte da mesma PM, mas tinham objetivos diferentes. “Eu fazia parte da PM comum, aquela que conhecemos hoje, fazíamos o patrulhamento ostensivo, o combate ao crime, aos roubos e furtos, eu nem mexia com as manifestações, que era serviço do outro grupo”, explica Davi.

*Sérgio, fez parte do grupo que combatia os subversivos e lembra que o comando criou essa força especial com o intuito de manter a ordem.

“Estávamos no quartel, nosso superior chegou e disse que precisava de homens para uma operação especial, eu na hora me candidatei. Depois na reunião ele explicou que a operação seria para combater os anarquistas que faziam arruaça nas ruas, a orientação era para descer o cacete”, afirma *Sergio.

Com a força formada, todos passaram por um intenso treinamento para saber lidar com as manifestações. Com o treinamento feito e as operações acontecendo nas ruas, começou um problema, onde levar os presos?

“Quando nós começamos a combater os manifestantes, entrou em discussão o local que eles seriam presos, não podíamos levá-los para cadeia comum, então o governo mandou que levássemos todos para um local que havia sido criado com essa finalidade, o DOPs,” relata.

Todos que eram presos por crimes políticos eram levado para o DOPS( Delegacia de Ordem Política e Social). Ali eles eram interrogados e se os militares percebessem alguma mentira ou omissão, os presos eram torturados.

Davi menciona que no quartel que ele trabalhava, comentavam sobre o DOPS mas, ninguém sabia de fato o que se passava na prisão. “Como a gente estava sempre pra ruas, quando nos juntávamos no quartel, era inevitável que o assunto sobre o DOPS aparecia. Só que ninguém de fato sabia o que acontecia ali, porque os policiais que foram designados para aquela função, nem cumprimentavam a gente, eles se achavam superiores porque foram escolhidos para fazerem parte da tropa de choque do governo, era como se existisse outra polícia no estado,” frisa.

*Sergio concorda com Davi. “Nós não éramos simples policiais, cuidávamos dos anarquistas e baderneiros que queriam apenas desestabilizar a sociedade e jogar o povo contra o governo, por isso agíamos com truculência e firmeza”, enaltece. E completa com veemência. “ Prendemos e torturamos muita gente, e digo mais, muitos presos sumiram e nunca mais apareceram, sabe por que? Porque eram pessoas que só faziam bagunça e queria destruir o país, nós apenas fazíamos o que era nosso dever, manter a ordem... se me arrependo disso? Não, faria de novo com certeza.”, finaliza.

O DOPS ou DEOPS foi criado em 30 de dezembro de 1924 e tinha como objetivo prevenir atos considerados políticos. Foi extinto em março de 1983.

*nome fictício.

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