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JK e a Ditadura

Em entrevista, Wilson Rossi fala sobre sua convivência com Juscelino Kubitscheck, ex-presidente da República e vítima de uma conspiração política que o assassinou em 1976. No ano passado, o relatório da Comissão da Verdade de SP declarou que JK foi vítima da Ditadura.

Bárbara Oliveira e Jenny Vieira

Qual sua ligação com o governo JK?

Meu irmão, dr. Milton Rossi, era muito amigo de Juscelino Kubitschek. Por isso acompanhamos todo o governo, desde sua campanha para se candidatar até a repressão que sofreu por causa da revolução do Regime Militar. Inclusive o hino feito para sua campanha para governador de Minas Gerais foi feito pelo meu irmão.

Como era a vida de JK antes da candidatura?

Juscelino sempre foi uma pessoa muito simples e humilde. Sua mãe, Júlia Kubitschek, era professora e o levava dentro de uma caixa para cuidar dele durante as aulas. O sonho de JK era ser médico, mas como não tinha dinheiro foi de carona até a cidade de Belo Horizonte estudar. Anos depois ele se tornou médico da Força Pública Mineira, e foi aí que ele entrou para a política. Juscelino tornou-se deputado, prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais. Com o sucesso do governo ele se candidatou a Presidente da República. Desde sua primeira candidatura já sofreu oposição por ser democrata. Algo que não foi publicado pela imprensa, foi um comunicado enviado pelo serviço sigiloso à Juscelino informando que a aeronáutica planejava derrubar o avião em que ele estaria em uma de suas viagens.

Qual era a visão das pessoas sobre o governo de JK?

Ele cumpriu a promessa de transportar a capital do Rio de Janeiro para o interior do Brasil. Por esse e outros motivos ele conquistou a confiança da população que gostava muito dele. Ele construiu a capital com muita dificuldade. Tinha que levar os materiais de construção de avião, já que não havia estradas de acesso, que depois também foram construídas.

Por que JK não foi reeleito já que tinha apoio do povo?

Com a revolução, era necessário que Juscelino continuasse no poder sem uma nova eleição. Mas, por ser um homem correto e democrata, não aceitou quebrar a constituição. Queria ser reeleito pelo voto do povo que certamente o escolheria de novo. No entanto, depois de muitos trâmites, seus direitos políticos foram caçados e suas propriedades foram tomadas. Ele começou a ser perseguido e desmoralizado pelos militares. Era ameaçado dia e noite. O desespero foi tão grande para um homem que havia sido respeitado pelo mundo, que ele chegou a pensar em se jogar do prédio em que morava. Para não morrer no Brasil, resolveu ir para a França, onde tinha estudado.

O que aconteceu quando ele voltou para o Brasil?

Depois de muito tempo Juscelino teve coragem de voltar para o Brasil, no entanto foi proibido de pisar em Brasília. Isso foi muito triste, pois ele gostava muito daquele lugar, dizia que era “a menina dos olhos dele”. Lembro-me bem que ele não aguentava de saudades da cidade que havia construído. Certa vez resolveu ir até lá, mesmo sem a permissão dos militares. Vestiu um macacão de operário, entrou em um caminhão de cargas e foi matar a saudade, chorando por não poder morar e nem entrar na cidade.

Como ele era como amigo?

Ele era muito justo. Quando era senador, fui visitá-lo em seu escritório várias vezes. Ele, bem informal, andava de meias nos pés pelo escritório. O que me impressionava muito é que sempre tinha uma Bíblia aberta atrás da sua poltrona. Vale ressaltar também que, por ser amigo do meu irmão, ele destinou uma boa verba para a construção do internato Adventista, UNASP- campus I (na época chamado IAE), localizado em São Paulo.


Qual foi o impacto da morte dele?

Meu irmão falou com ele uma última vez em uma sexta-feira. Eles marcaram uma reunião para que o Milton o ajudasse a recuperar suas posses aqui no Brasil. A reunião foi marcada para a segunda-feira que viria. No entanto, no domingo o noticiário relatou o acidente de carro que causou sua morte. Mais tarde foi comprovado que, na verdade, ele foi assassinado. Depois disso o Brasil caiu em prantos. Em um dos momentos de homenagem à JK, uma de suas filhas fez questão de contar quanto amigos verdadeiros de seu pai, estavam ali. Ela agradeceu de forma especial a todos eles, e entre eles meu irmão, que sempre demonstrou lealdade a este amigo querido.

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