Colégios militares levam “valores do exército” à estudantes
Instituições garantem que não têm por objetivo doutrinar os alunos, mas muitos profissionais da educação contestam métodos pedagógicos dos militares
Thiago Basílio
A educação atual é pautada em muitos conceitos de correntes pedagógicas que pregam uma maior liberdade do aluno para que ele seja capaz de aprender com as suas vivências e com as experiências dos seus colegas de escola. As interações sociais são de extrema importância para o desenvolvimento do estudante como cidadão. Mas esse princípio nem sempre é observado em todas as instituições de ensino do país. O Brasil possui uma rede de 12 colégios militares espalhados pelas cinco regiões. Essas instituições carregam em sua metodologia de ensino marcas muito fortes de moral, civismo, patriotismo e disciplina.
“O objetivo do Colégio Militar é formar cidadão desde o 6° ano do ensino fundamental, até o 3° ano do ensino médio, onde o currículo, apesar de ser um colégio militar, segue a mesma matéria, a carga pedagógica e horária determinada pelo MEC.”, assegura o Major Viana, Relações Públicas do Colégio Militar de Curitiba.
Mas apesar das “semelhanças” com as escolas “normais”, muitas particularidades norteiam o dia a dia dessas instituições que obrigam os alunos a utilizarem um uniforme com traços oficiais, cortes de cabelo padronizados, cumprimento de horários, disciplina exemplar, participação semanal em formaturas, desfiles militares e outras atividades que enaltecem sempre “valores” como honra, dever e patriotismo.
Para a Capitã Cerdeira, chefe de Comunicação Social do Colégio Militar de Brasília, mesmo com todas essas sistemáticas, não é objetivo da instituição doutrinar os alunos. “O estudante é matriculado em uma instituição militar onde o diferencial são os valores cultuados pelo exército: amor a Pátria, civismo, respeito às leis”, explica. Segundo ela, é natural que muitos encontrem nesses valores uma vocação e seguem a carreira militar, “mas a maioria dá sequência a suas vidas como bons profissionais civis que levarão para sempre os valores aprendidos aqui”.
Isso é frequentemente contestado por pedagogos e profissionais da educação que denunciam práticas autoritárias de ensino, como aconteceu em 2011, quando foi questionada a forma como os livros de história das instituições militares se referiam ao período da Ditadura (que traziam a nomeclatura “revolução” no lugar de “Golpe” nos didáticos).
Em entrevista ao Site Sul 21, Luis Fernando Cerri, professor de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, ressalta que “em uma democracia, liberdade é fazer tudo o que o que é possível dentro da lei. Entendemos que o ensino da história não pode ser feito desconsiderando nossos princípios atuais. Nossa constituição proíbe várias práticas da Ditadura Militar, como a formação de grupos armados para tomar poder”.
Mesmo com as polêmicas, essas instituições ainda são muito procuradas por pais civis e militares por apresentarem elevados índices na qualidade da educação. Quem se interessa em estudar em um colégio como esse deve prestar um concurso público e obter uma pontuação que o classifique entre as vagas disponíveis.