A evolução da cobertura jornalística
Nos anos da Ditadura Militar os recursos eram mínimos em comparação com as facilidades e tecnologias de hoje, mas esse jornalismo foi importante para registrar o início do futebol brasileiro
Guilherme Constante e Rúbia Alves
Na época da Ditadura Militar, a censura reprimia qualquer reportagem ou programa que não era do interesse dos militares. Também havia uma censura econômica, já que o governo era o maior cliente publicitário e ameaçava cortar verbas caso houvesse a publicação de uma matéria indesejada. Carente de investimentos, a TV cedeu às pressões do governo e se auto beneficiou. Com exceção da TV Cultura, todas as outras emissoras ajudaram o Regime. No entanto, a Rede Globo teve maior destaque, principalmente o Jornal Nacional, como “porta- voz da ditadura”.
Até o início da década de 1970, o esporte na TV era exibido como parte dos noticiários gerais, mas sem grande relevância. Como a televisão ainda ganhava força no Brasil, os esportes nos anos iniciais da Ditadura não ganharam muito destaque. Um dos motivos é que as modalidades não tinham a visibilidade e a importância que possuem hoje. O início dos clubes de futebol no Brasil foi de bastante dificuldade e de pouca aceitação na cobertura jornalística. O jornalista esportivo Paulo Vinícius Coelho fala no livro Jornalismo Esportivo, que os jornais impressos do Brasil, de meados de 1930, dedicavam apenas uma coluna de uma página para falar de futebol.
A televisão brasileira, com destaque para a Rede Globo, começou a incorporar modelos de reportagens trazidos dos Estados Unidos e a fazer coberturas esportivas ainda que com uma equipe bastante reduzida. Com a chegada do video-tape, as coberturas ganharam mais agilidade.
O jornalista Ruben Dargãn, lembra que a cobertura jornalística esportiva nos anos de 1970 era restrita a algumas regiões do Brasil. “Os noticiários davam importância apenas para o eixo Rio - São Paulo. Os principais jogadores faziam parte dos times dessa região”, esclarece Ruben. Nessa época, a equipe da seleção brasileira era formada por atletas que atuavam nesses dois estados brasileiros. “Era como ter a valorização e visibilidade equivalente a da Europa nos dias de hoje”, completa o jornalista.
É claro que existiam bons jogadores em times de outras regiões brasileiras, mas para terem chances de atuar na seleção, muitos vinham jogar no Palmeiras, Corinthians, Botafogo ou Flamengo. E a mídia divulgava dessa forma.
O jornalista esportivo e apresentador da TV Bandeirantes de Campinas, Carlos Batista, conta que na década de 80 o relacionamento com os atletas era diferente. “Tínhamos mais acesso aos jogadores. Hoje, a burocratização da comunicação dos atletas é muito grande devido aos empresários, dirigentes dos clubes e assessores”, pontua Batista.
Arnaldo Antônio de Freitas, que jogou no time paulista do Juventus, entre os anos de 1966 e 1977, afirma que um jogador da época tinha uma vida mais simples. “Eu saia do treino na Mooca e tinha que pegar condução para chegar na minha casa em Diadema. Todos tinham uma vida humilde, sem muitos privilégios”, esclarece o ex-centroavante.
Osvaldo Luis, apresentador da EPTV Campinas e locutor de futebol da EsporTV, revela que até para a equipe jornalística a realidade era diferente de hoje. Os recursos eram bem reduzidos e a tecnologia bem distante. "eu não tinha celular. Quando eu estava cobrindo algum jogo ou coletiva e precisava entrar em contato com a redação, tinha que comprar fichas e usar o orelhão”, confessa Osvaldo.
A realidade dos atletas e dos jornalistas esportivos é bem diferente. A cobertura dos esportes é bem mais abrangente e vasta. “O conteúdo esportivo disponível na televisão, revistas e na internet é imenso. Nos anos 80, a população não tinha acesso aos esportes menos populares”, revela Osvaldo Luis.
Era preciso que corajosos se arriscassem na cobertura esportiva nos tempos remotos. Sem eles, não teríamos acesso ao esporte em seu início e fortalecimento.