Resquícios da Ditadura
Partido Militar Brasileiro pretende voltar ao poder, mas desta vez democraticamente.
Jéssica Veloso
O PMB, Partido Militar Brasileiro, foi idealizado em janeiro de 2011 em uma reunião de militares, hoje seus líderes já coletaram 320 mil das 492 mil assinaturas necessárias para o reconhecimento do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O partido já possui representantes em mil municípios do país, espalhados pelos 26 estados e o Distrito Federal.
Mas, para o sociólogo Pedro Fassoni Arruda, docente de Ciências Políticas na PUC de São Paulo, esse não é um motivo para alarmismo e preocupação com relação a futuros golpes e políticas radicais. Segundo ele, nem mesmo os partidos de oposição ao governo federal defendem essa solução para o país, o que diferencia das vontades dos líderes de oposição de 1964. “Não existe ambiente para um Golpe Militar nos dias de hoje”, ressalta Arruda. A sociedade vive um momento de busca por conhecimento e aplicação de seus direitos como cidadãos.
Segundo o representante do partido em Artur Nogueira, SP, Evandro Gonçalves, Militar da Reserva e presidente do diretório do partido localizado no município, o objetivo da coligação é apresentar propostas de direita visando o cidadão de bem. “O partido militar brasileiro tem como princípio geral a defesa da sociedade, da proteção da família e do cidadão. Nós visamos o ser humano, a integridade e a honra”, afirma Gonçalves.
O partido está trabalhando para que em 2016 os candidatos concorram às eleições municipais. Entre as propostas apresentas pelo partido está a aprovação da prisão perpetua, redução da maioridade penal e principalmente reformulação do nosso código penal. As propostas do partido são de extrema direita, mas de acordo com Gonçalves o partido não é radical. Gonçalves espera já ter a legenda formada e atuando em pouco tempo: “o partido ainda está sendo fundado, estamos buscando ficha de apoio à legenda pra isso, acredito que nos próximos meses isso já vai estar resolvido e o partido vai estar formado”, ressalta.
As consequências herdadas do período em que os militares estiveram no poder, como imposição de um modelo de desenvolvimento econômico excludente com a riqueza nas mãos de poucos; diminuição do salário; repressão aos sindicatos e trabalhadores; bloqueio da reforma agrária; militarização da polícia e restrição das liberdades individuais; faz com que muitos brasileiros vejam com desconfiança a volta deles ao governo.
O aposentado Valdivino da Silva, 70 anos, lembra como uma roda de amigos podia ser repreendida no período de Ditadura Militar caso fosse considerada suspeita. “Naquela época, se a gente estivesse sentado em um bar conversando sobre política e um policial que estivesse na rua achasse que estávamos falando mal do governo, ele mandava parar com a conversa em meia hora. Caso o pessoal não se dispersasse ele voltava e você era obrigado a prestar esclarecimentos na delegacia”, lamenta Silva.
Hoje em dia, com a quantidade de denúncias envolvendo políticos, a população não acredita mais em bons governantes na política brasileira, sejam eles de direita ou esquerda. De acordo com o sociólogo Arruda, “a sociedade brasileira não é homogênea e não há um consenso a respeito do tipo de governo ideal”, afirma. O que tem desenvolvido no povo brasileiro é um “descontentamento difuso com os políticos em geral, e não apenas com o governo vigente, já que a oposição demo-tucana também não consegue o apoio da maior parte da população”, observa Arruda.