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A política do escracho

Jovenis do levante em frente a casa do oficial militar Calandra, apontado no relatório da Comissão Nacional da Verdade como um dos torturadores de Stuart Angel.


Cley Medeiros


Agentes que contribuíram com a repressão política durante a ditadura, se levantam às manhãs do dia 1º de Abril, temendo ações de escracho organizado por jovens militantes de partidos políticos e familiares de torturados durante os 21 anos do golpe militar no País. Com tintas, pichações e gritos, as casas dos agentes da repressão se tornam alvo para ações de grupos que vêem no escracho a possibilidade de tornar público o envolvimento de militares no desaparecimento forçado de aproximadamente 245 pessoas durante a ditadura. Em uma dessas ações organizada pelo Levante Popular da Juventude, o professor da UFF Edmilson Costa, que também foi torturado durante a ditadura, diz com entusiasmo:“É histórico; Essa juventude assumiu uma luta que estava sendo levada por familiares e torturados, o que significa que ela vai ter continuidade e que é necessário que venha à tona a verdade do que aconteceu no país” O professor completa dizendo: “A juventude é muito sensível à questão da liberdade, um tema que está sempre em pauta. E aqui no Brasil temos essa ferida que ainda não foi sarada, precisamos reconstruir nossa história, denunciando os torturadores, indo nas casas mostrando para os vizinhos que esses senhores, aparentemente ‘bons velhinhos’, eram monstros no passado”, afirma Costa. No entanto, há quem considere a atitude dos jovens um desrespeito à verdade, ainda confusa, sobre os anos de chumbo. O Deputado Federal Jair Bolsonaro, árduo defensor da ditadura militar vê na motivação dos jovens um perigo à estabilidade democrática: “Não é de hoje que jovens saem às ruas chamando militares de torturadores. Mas eles não fazem as mesmas perguntas à senhora Dilma Rousseff que participou do assalto do Banco Lavoura de Sabará, e que até hoje não sabemos por onde está os corpos que sua guerrilha, MR8, deixou pra trás.” Na onda de opiniões contrárias e favoráveis à ações de escracho, está Leonardo Bauer, estudante universitário em Minas Gerias que há 2 anos participa dos atos e considera que muito acima dos direitos à privacidade, está o de esclarecer à comunidade que mora ao redor de possíveis casas ou clubes militares, o envolvimento direto de seus proprietários e frequentadores, com casos de tortura. “Não consigo ignorar o fato de que eles ainda estão impunes. Foi um crime contra os direitos humanos e ainda assim o Governo brasileiro sempre busca minimizar o que eles fizeram. Isso deveria ser mais que exposto, deveria ser julgado.” Conta Leonardo.


Adelia Souza, pesquisadora da UFRJ, estuda ações de escracho desde a redemocratização do País em 1989 e acredita na proposta abrangente nas ações de escracho, segundo ela, as ações não só alertam para atos históricos esquecidos, como também evidencia que a tortura continua sendo uma das formas de interrogatório nas periferias. ,

“A tortura tem sido uma prática constante e esses jovens estão nas ruas mostrando que ela não está longe de nós, aliás, está perto. As manifestações também reiteram que é necessário mudar o caráter violento do Estado, que tortura nas delegacias e mata jovens na periferia”, e completa: “As torturas, os assassinatos e o ocultamento de cadáveres na ditadura militar foram denunciados, tanto dentro quanto fora do Brasil, e nenhuma providência foi tomada. É a própria história que agora cobra o fim da impunidade”. afirma Adelia.


O Levante Popular da Juventude começou a se organizar a nível nacional em 2012 com escrachos em todo Brasil. O movimento reúne jovens das periferias da cidades e do campo além de boa parte ser estudante universitário. Hoje conta com aproximadamente 10 mil militantes no país. Também participam de atos juntos com o Levante, membros do Juntos (PSOL), do PT, da Consulta Popular e do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça.

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