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Tucuruí, a usina da discórdia

Com capacidade de produzir 4.000 MW de energia, a UHE Tucuruí foi um brinco de ouro para a economia brasileira no período militar. No entanto, até hoje, pessoas vítimas da barragem não receberam as devidas indenizações.

Douglas Pessoa

Segunda-feira, 12 de março de 2013. A cidade de Tucuruí, no sudeste do Pará, amanhecera barulhenta devido à movimentação do primeiro dia útil da semana. Fazia calor e o ar estava muito úmido, o que não é estranho nesta cidade amazônica. Logo após as 9 da manhã as ruas ficaram mais calmas com o fim do primeiro horário de pico, quando centenas de trabalhadores se dirigem para o pátio da Eletronorte, subsidirária da Eletrobrás para toda Amazônia Legal que praticamente domina Tucuruí.

No entanto, em poucas horas a cidade estava um caos. Homens e mulheres oriundos da Zona Rural marchavam para a colossal construção de concreto instalada no leito rochoso do rio Tocantins. A ideia de todos era cobrar, como já fazem há 20 anos, as indenizações pela inundação das suas terras ocasionadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, a maior UHE totalmente brasileira. “Essa construção aí leva energia pro Brasil inteiro, mas não abastece os afetados pelo lago. Além disso, ainda não recebemos nossas indenizações”, afirma um dos líderes do Movimento dos Atingidos por Barragens.

Construída em 1974 e inaugurada em 1984, pelo então presidente João Figueiredo, a UHE Tucuruí surgiu para abastecer a crescente demanda por energia das regiões Nordeste e Centro-Oeste. Além de suprir as usinas alumínio Abras e Alunorte, em Barcarena, nos arredores de Belém. A construtora Camargo Correa, recentemente envolvida em escândalos com o governo federal, foi responsável por erguer o colosso de concreto no leito do rio Tocantins. “Promessas e mais promessas foram feitas. Eles diziam que a usina iria trazer desenvolvimento para Tucuruí e que os afetados seriam imediatamente indenizados”, cobra Manuela Silva, uma das moradoras da cidade.

Logo após a inauguração da usina, um extenso lago foi formado e milhares de moradores e ribeirinhos tiveram que abandonar suas casas. Vilas inteiras e até uma cidade teve que ser realocada. “O governo militar precisava de duas hidrelétricas de grande porte, Tucuruí e Itaipu, para abastecer a sede de crescimento”, afirma o geógrafo Ricardo Santos.

No entanto, várias consequências estavam a caminho do colosso do Camargo Corrêa. As milhares de pessoas que foram retiradas de seus lares ou que ficaram ilhadas e não receberam as devidas indenizações travam uma luta constante com a Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás que administra a UHE. “Queremos um plano de recuperação e desenvolvimento dos municípios atingidos pela barragem, através da criação de um fundo específico, reassentamentos urbanos e programas de educação e formação”, cobra Euvanice Furtado, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens. Segundo ela, 15 mil famílias das que foram atingidas pela hidrelétrica de Tucuruí não possuem energia elétrica em suas residências. “Há 25 anos a Eletronorte lucra milhões e nós continuamos miseráveis e sem acesso a luz que ela produz”, reivindica.

Segundo nota divulgada pela assessoria de impressa da Eletronorte, a empresa, juntamente com o Governo Federal através do programa Luz para Todos, construiu linhas de transmissão para residências de quatro mil famílias no entorno do empreendimento. Ao todo são 21 mil famílias afetadas e a subsidiária garante fazer o fornecimento de energia para todas elas. Ainda segundo a nota, os recursos investidos para esse projeto somam R$150 milhões. Metade da Eletronorte e metade do Governo Federal.

No entanto, segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens, nem a Eletronorte e nem o governo forneceram energia para todos os afetados. A liderança do grupo alega demora na construção das linhas de transmissão.

Não cumprimento de acordos com as pessoas atingidas pelos grandes projetos da Ditadura militar foi uma característica do regime. Na região Norte essa característica revelou sua face mais cruel. Devido a uma menor atenção que essas pessoas recebem, elas foram obrigadas a migrar e conviver com novos problemas. 25 anos depois o regime militar no Brasil acabou, a democracia ganhou moldes modernos e o país se desenvolveu e enriqueceu. No entanto, para as famílias atingidas por Tucuruí, o tempo passou e o desenvolvimento não chegou.

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