Transição: da repressão à liberdade
Ex- membros do exército relembram época da disciplina e sentem saudades
Jenny Vieira e Manuela da Costa
Experiências vividas em uma época, não tão distante assim, fazem história na vida de ex-militares. Motivados pelas lembranças, os ex-militares da Guarda Presidencial encontraram nas redes sociais uma maneira de relembrar o passado.
Tanto pelo número de usuários quanto pelas opções de serviço que a rede social oferece, o Facebook tem sido o mais escolhido para reunir pessoas da mesma época em um só local. É lá que eles podem contar histórias, reencontrar velhos amigos e aconselhar os novos militares, já que possuem muita experiência no assunto. É na página oficial do Batalhão da Guarda Presidencial que 1.270 membros, entre jovens e idosos, se reúnem para comentar a respeito do assunto.
Foi nesta mesma página que encontramos Jaury Prado, 50. O ex-militar serviu o exército no ano de 1974 na Guarda Presidencial em Brasília. Sobre a página na rede social ele comenta: “A internet é uma boa ferramenta para reencontrarmos antigos amigos. Gostamos de postar as fotos daquela época e lembrar de coisas boas e ruins”, diz. Quando questionado sobre que tipo de lembranças ruins faziam parte da sua história, Prado afirma que não chegou a sofrer repressão, mas que a disciplina era muito maior do que a que existe nos dias de hoje.
Não é de se duvidar. Sandoval Vatri foi um dos participantes do exército entre os anos de 1993 e 2002. Neste período ele ainda pode sentir os vestígios do Regime e acompanhou a transição para uma época de liberdade onde só restaram lembranças da Ditadura. Mas não foi apenas no exército que ele notou diferença. Nas escolas onde estudou sentiu a drástica mudança. “Naquele tempo os professores eram rígidos e exigiam respeito, pois a lei os amparava. Eram muito respeitados e exigiam desempenho nas aulas”, explica.
Mas a situação nem sempre é vista como negativa. Para alguns, a autoridade dos professores em sala de aula, tinha também o seu lado positivo para a educação. “Em meados dos anos 70 e todos os anos 80, a educação das escolas públicas era de muito boa qualidade. Os professores eram respeitados e os alunos, de uma forma geral, bem enquadrados, com raríssimas exceções. Hoje as exceções se tornaram a regra. As escolas públicas estão péssimas”, compara Vatri.
Apesar de toda a autoridade existente no campo militar, Prado também encontrou o lado positivo do Regime. “Nunca fui a favor da Ditadura porque foi uma época de crise para o país. A democracia era o assunto do momento, mas, em contrapartida, havia muito mais organização e patriotismo”, reflete.
Os anos se passaram e hoje o Brasil comemora 50 anos de liberdade pós Ditadura. No entanto, cabe aos brasileiros questionarem se essa liberdade realmente ajudou no crescimento do país. “Não sou a favor da repressão ou de torturas. Sou a favor da disciplina, respeito às autoridades e educação que eram ensinados em casa e nas escolas. Hoje com essa suposta ‘democracia’ todos fazem o que querem, tudo é permitido, não existe mais respeito nem aos pais, nem aos professores e nem as autoridades civis e militares”, conclui Vatri.