Teatro de Arena é duramente repelido pela ditadura
Companhia foi uma das maiores pregadoras da cultura durante os anos de chumbo
Manaces Silva e Maicon de Almeida
Na metade do século passado, diversas frentes artísticas promoveram a cultura no Brasil. Grupos de teatro, de dança e bandas musicais fizeram com que o país se introduzisse em movimentos de expansão social.
Dentro dessa linha temporal surgiu o Teatro de Arena. O espaço tinha por objetivo construir espetáculos de baixo custo. O escritor, dramaturgo e roteirista brasileiro, Izaías Almada, autor do livro ‘O Teatro de Arena’ (2004), cita que esse era ‘um teatro profissional de muito boa qualidade feito, principalmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo ele, a ideia foi trazida de uma visita do crítico Décio de Almeida Prado feita à Nova York, abraçada pelo ator e diretor José Renato, em 1951.
Almada relata que os jovens da época encontraram no teatro uma forma de compreender a sociedade e as transformações que estavam acontecendo. “Muitos desses jovens atores, diretores, cenógrafos acompanhavam a política e os movimentos sociais no Brasil e no mundo e acabavam por fazer da atividade teatral, além da fruição do prazer estético, um momento de reflexão sobre a vida, sobre as relações sociais”, diz.
Falar sobre questões sociais não era bem visto pelo governo, principalmente quando esse tema era exposto em peças teatrais. Logo após o golpe, em 1964, a censura e as perseguições contra intelectuais de esquerda e militantes se intensificou com o decreto o AI-5, em 1968.
Heleny Telles Guariba, professora e diretora ligada ao Teatro de Arena e militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), foi presa pelos órgãos da repressão e veio a tornar-se uma das centenas de pessoas cujo desaparecimento é oficialmente reconhecido pelo governo. O próprio Izaías Almada foi preso e torturado logo após o AI-5: “Passado o período mais agudo, houve um hiato nas perseguições, entre 1965 e 1968, quando então o AI-5 endureceu as ações do governo contra a esquerda. Fui preso em 1969 e Augusto Boal em 1971 e fomos bastante torturados. Mas não é um assunto do qual eu goste de falar”, desabafa.
A docente de pós-graduação em Artes Cênicas na ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP, Maria Sílvia Betti, relata que os abusos sofridos pela classe artística por parte do governo militar logo vira temática para novas peças, intensificando ainda mais a perseguição. “A matéria histórica figurada nessas peças dá expressão dramatúrgica e cênica aos horrores praticados pelo regime”, explica.
A tortura, o exílio e o desaparecimento de prisioneiros políticos seriam abordados em inúmeras peças como: Milagre na Cela (1977), de Jorge de Andrade, Murro em Ponta de Faca (1978), de Augusto Boal, e em Sinal de Vida de Lauro César Muniz (1979), dentre outras. O encerramento das atividades do Arena e do Oficina assinalou o ápice da repressão, já no início dos ano 70.