Memórias de um Museu
Francisco Gardel
Explorando os velhos centros das grandes capitais do Brasil é possível encontrar memórias históricas do país. Na capital paulista, o Memorial da Resistência de São Paulo me chamou a atenção. Fui até lá e me deparei que se trata de uma espécie de Museu dedicado à preservação de referencia das memórias da resistência e da repressão política do Brasil na época da Ditadura Militar. Logo no começo do Museu é possível observar uma bela ilustração que contém todos os desaparecidos, perseguidos e mortos pela Ditadura. É possível ver um pequeno histórico de cada um, nos quais se revezam em jornalistas, professores, estudantes e religiosos.
Ao fundo, há inúmeras salas com ferramentas de imagem e som que permite o visitante assistir a pequenos documentários de pessoas que foram presas e torturadas. Nessas mesmas salas estão disponíveis maquetes das celas onde as pessoas passavam dias, meses e anos presas. Comoção é quando chega à parte onde exatamente os “rebeldes” da época ficaram presos. São três celas ao todo que contem grades e colchões de palhas nos quais os presos dormiam. A porta, que está banhada de verniz para conservar a madeira, é a mesma da época. Na parede é possível ler, por meio de tintas, frases que relatam o drama vivido por quem se opunha a ditadura. Frases chocantes que nos levam, por um segundo, a viver o drama de alguém preso.
Em outra sala, por exemplo, havia fones de ouvido disponíveis com gravações de religiosos que foram torturados. É assustador e ao mesmo tempo uma experiência ímpar. A guia, que nos conduzia pelos espaços, era um poço de sabedoria no que diz respeito às repressões militares. Uma verdadeira aula de história que se casava entre o fato e o real. O ambiente proporciona uma viagem ao túnel do tempo dando a impressão de que estamos vivenciando a formas de repressão militar.
Nas paredes há desenhos de padres que ali rezavam missas. Esses mesmos padres foram presos por se contrários ao militarismo. Também havia corredores apertados e longos. São reais. Os presos iam uma vez à semana para tomar o banho de sol. Muitos não iam, por medo dos militares. Por fim, o memorial nos leva a uma viagem nas mais profundas origens da ditadura. A sensação ao deixar o museu é de alívio por esta geração não ter vivido o golpe.
Claro, a situação foi diferente na época, mas é assustador e ao mesmo tempo curioso. Será que o Brasil estaria pronto para ter novamente um governo militar? Caso um novo golpe fosse dado. Essa geração estaria preparada? Este espaço pode nos dá uma introdução. Afinal, o Memorial da Resistência de São Paulo é um lugar no qual é possível sentir um choque de realidade na política brasileira da época e de como isso é refletido hoje.
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