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Heranças da Ditadura

Manifestações: caráter da juventude?


Andréa Romero


Na medida em que as oportunidades para os jovens forem escassas, que as perspectivas e o futuro forem incertos e suas vidas forem privadas de lazer, cultura, educação, consumo e qualidade de locomoção, haverá ignição para protestos dos estudantes, especialmente tentador para jovens na marginalidade ou a mercê de grupos radicais que os manipula em nome do minuto da fama, da sobrevivência imediata, comenta o coordenador do curso de História do Unasp, Elder Hosokawa.

“A crise num cenário de instabilidade econômica dá chance para ruptura, para a participação da sociedade na defesa de múltiplos interesses e reivindicações. A pressão dos jovens é um motor com potencial para transformação”, explica.

Entre os diversos movimentos ocorridos ao longo de muitos anos, a manifestação que aconteceu em 2011 no campus da USP, é apenas mais um exemplo. Gabriel Regensteiner, diretor do DCE da universidade, conta que na ocasião foi gerado todo um clima de tensão, no qual o estopim da mobilização foi o fato da polícia ter prendido três rapazes que estavam fazendo uso de cigarro de maconha no prédio da história e geografia. “O pessoal começou a se mobilizar em volta e a partir daí começou uma guerra civil, começou juntar muita gente e teve confrontos, bombas e outras coisas.”

Nesse episódio ele discorda do rumo tomado para a resolução do problema, porém, para o jovem diretor de 20 anos e também estudante de Ciências Sociais, as manifestações políticas precisam existir. “Elas fazem parte das lutas e propostas democráticas que nós estudantes reivindicamos ao longo de vários anos.” Em sua opinião os movimentos políticos também não precisam ser tratados com polícia. “Considero um absurdo que as mobilizações políticas sejam tratadas com polícia. Até hoje vemos estudantes que são expulsos da universidade por se manifestarem politicamente e isso é mais uma herança da ditadura no Brasil”.

Hosokawa abre um parêntese e lembra que na história dos 50 anos pós 1964, os jovens estudantes que sonharam com a revolução social e política alcançaram o poder na idade adulta e perderam o idealismo, a ética, a noção da distinção do interesse público e privado. Encaminham-se na perspectiva geracional e da maturidade para defesa de interesses racionais e privados como previa Aristóteles na sua definição dos costumes dos jovens, adultos e velhos; faltam na coragem para mudar estruturas políticas tradicionais e acomodam-se com pequenas conquistas. São mais inclinados a ousadia do que a vergonha. Vivem de recordações dos seus feitos, obedecem à estimativa, deixando de desejar e acreditar.

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