A outra face da Ditadura
Quando se fala sobre Ditadura a primeira coisa que vem à mente é a repressão e torturas vividas por muitos, mas essa não é uma opinião compartilhada por todos. Para alguns a Ditadura não representou um ato de repreensão à sociedade, mas uma ação do governo para organização do Brasil.
Bárbara Oliveira e Juliana Prado
Os anos que o Brasil viveu no Regime Militar costumam ser lembrados pela violência, torturas e ditaduras impostas pelo governo, que intervinha fortemente na economia e na vida social dos brasileiros.
Durante a Ditadura foram usadas muitas estratégias para disseminar os valores e ideologias políticas. Entre elas, as regulamentações criadas para a imprensa como a censura dos meios de comunicação, a utilização do ensino público para difundir os conceitos do Regime e a repreensão daqueles que eram contra as ideias impostas.
Mas depois desse quadro histórico, o Brasil passou a viver uma realidade diferente. A democracia e a liberdade de expressão foram duramente reconquistadas. Hoje os indivíduos podem escolher seu direcionamento político, votar e ir às ruas para exigir seus direitos. Mas 50 anos depois do Golpe a ideia de “liberdade de expressão” é questionada. Nos quatro primeiros meses de 2014 cerca de 230 ônibus foram queimados no Brasil. Algumas das ações foram feitas como uma forma de represália às atitudes da Polícia Militar, como protestos contra a política do país e contra a realização da Copa do Mundo no Brasil.
Sidnei Oliveira, especialista em gerações, explica que a sociedade vem seguindo um movimento de contestação de toda e qualquer imposição arbitrária. “Há anos a sociedade vem iniciando um movimento de redução de limites e de contestação das autoridades estabelecidas”, conta.
Toda essa reviravolta de liberdade se confirma nas palavras da presidente Dilma Roussef em uma entrevista coletiva realizada no mês de abril, na qual ela se referiu aos 50 anos do Golpe Militar dizendo que “os brasileiros aprenderam o valor da liberdade”.
Mas essa não é uma opinião compartilhada por todos, pois para algumas pessoas a Ditadura não representou um ato de repreensão à sociedade, mas uma ação do governo para manter a ordem no país.
Para o geólogo Nahor Neves, o Regime contribuía para a organização da sociedade, o que foi um ponto positivo no governo ditatorial. “Havia mais ordem, mais disciplina. As regras funcionavam melhor. As autoridades eram respeitadas, os professores, os pais eram tratados com mais respeito. Isso faz com que alguns sintam saudade dessa época”, afirma.
E a violência?
José Carlos Prado ingressou no Exército em 1970 até 1973, se formando no curso Engenharia Militar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (C.P.O.R) de Curitiba, no estado do Paraná, atuou como Tenente no I Batalhão ferroviário de Lages, em Santa Catarina. Apesar de trabalhar num período em que a Ditadura ainda estava em alta, afirma nunca ter recebido orientações que levassem a repressão e garante que não viu nenhum movimento desse tipo. “Durante o Curso no C.P.O.R nunca tivemos orientações e determinações que levassem a repressão, o mesmo ocorrendo no período de atuação nas atividades militares.”
Sobre as torturas e repreensões da época, o ex-militar esclarece: “Acredito que as arbitrariedades e repressões ditas que havia na época do Regime Militar foram efeitos do princípio da Física de ação e reação, pois eu e todos em minha volta vivemos aqueles tempos e nunca vimos fatos que não fossem de nossa rotina de trabalho. Acredito que muita coisa foi adicionada pela mídia”.
Para José a preocupação maior era trabalhar para que o futuro da família fosse garantido e não teve tempo nem motivos para se envolver em atos de repressão. Ele afirma que se a era da Ditadura voltasse, o Brasil seria mais organizado, e menos corrupto. “Se hoje a Ditadura existisse em nosso país, muita coisa seria diferente, a começar pela punição da corrupção”.
Para Nahor a sociedade nem sempre tem feito bom uso de seus direitos, visto que o ano de 1984 foi marcado pela atuação do povo que foi às ruas pedindo pelo fim do Regime. “Hoje podemos aproveitar essa liberdade para escolher nossos governantes, mas o melhor é o equilíbrio. Saímos de um extremo e fomos ao outro”, reflete.