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O passado se faz presente

O crescimento das instituições de ensino privado e a exclusão social nos vestibulares


Andréa Romero


Segundo o historiador e autor do livro "As universidades e o regime militar", Rodrigo Patto Sá Motta, durante o período da ditadura, foram criadas dezenas de instituições privadas de ensino. Faculdades que em sua grande maioria, eram de baixa infraestrutura e compoucaofertadecursos.


Apesar de não ter sido regra, algumas se tornaram faculdades de boa reputação e qualidade, porém isso aconteceu com poucas.


Esse aumento ocorreu porque o governo, visando seus planos de crescimento, oferecia muitos incentivosaosempresáriosdoramoeducacional. O resultado dessa mudança foi percebido na redução das quantidades de matrículas nas faculdades públicas, enquanto as particulares experimentavam o aumento extensivo dos alunos, mesmo com condição inferior.


O exame para vestibular tornou-se também um tema político sério. Tendo em vista a expansão acelerada, as provas começaram a ser reformuladas. Quando milhares de estudantes começaram bater à porta, a decisão foi tornar o vestibular unificado para facilitar a organização do crescente número de candidatos.


Assim foi oficializado o novo sistema, baseado em provas sobre as disciplinas obrigatórias do ensino médio. A partir desse contexto criou-se a indústria dos cursinhos. O vestibular tornou-se um grande negócio com muitas oportunidades de lucro para os especialistas em fazer os jovens “passarem”.


O coordenador do curso de história do Unasp, Elder Hosokawa, contaque desde dezembro de 1996 (LDB Darcy Ribeiro) o vestibular perdeu esse nome e passou a ser tecnicamente e oficialmente conhecido como Processo Seletivo, com o aperfeiçoamento do ENEM e seu uso para ingresso nas Universidades Federais. “O ingresso decorre em razão dos valores e conteúdos da cultura letrada dominante, oriundo do ensino privado. Acaba selecionando uma elite cultural que perpetua a exclusão de jovens das camadas inferiores com igual talento”.

Hosokawa acredita na eficácia quanto à criação de cotas. Ele cita como exemplo o ocorrido na UnB (DF), que já comprovou resultados positivos.


Desde o segundo semestre de 2004, a Universidade de Brasília (UnB), criou uma política de sistema de cotas para negros no vestibular. Tal sistema foi colocado em prática após muito debate e discussão por parte da comunidade acadêmica. A ideia era instaurar, no espaço acadêmico, um mecanismo reparador das perdas infringidas à população negra brasileira.

Gabriel Regensteiner, estudante de Ciências Sociais e diretor do DCE da USP, diz ser de extrema importância que a luta por reformas sociais continue. “São heranças desse período que se estendem até hoje. Hoje em dia, nós estudantes debatemos o fato de como o vestibular funciona mais como um filtro social do que um mecanismo para a seleção dos mais aptos".

Em sua terceira gestão como diretor, Gabriel compreende que, "quem pode pagar boas escolas particulares e faz cursinho entra e quem faz o ensino básico em escola pública não.” Ele conta que existe uma batalha histórica do movimento estudantil para que se democratize o acesso à universidade pública, para que se criem mais vagas, mais cotas para os alunos que vêm de escolas públicas e cotas raciais.


“Existe um mito de que o cotista tem desempenho inferior. Na verdade as pesquisas indicam que o cotista tem desempenho igual ou superior ao não cotista”


A ditadura inseriu no ensino básico um processo de educação elitista e sofremos com ele até hoje, esclarece. Para Gabriel, o ensino público, tanto o fundamental como o médio é alarmante, e, antes da ditadura não era assim. “Nos anos 50,60 as melhores escolas eram as públicas. Nossa luta é para implantar o projeto de uma universidade que sirva a sociedade. Defendemos a criação de cotas aqui na USP, como uma forma de reparar as desigualdades históricas e sociais do ensino básico. Existe todo um debate sobre essa questão que também será colocado em pauta nessa greve”.


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