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O esporte e os extremos da Ditadura

No período em que o Brasil foi comandado por militares, saiba como o esporte era implantado nas escolas e os esportes e atletas de destaque na época

Bruna Perales e Juliana Zanlorenzi

Em meio à censura das matérias políticas e policiais, os destaques dos jornais estavam abertos às manchetes esportivas. Enquanto no Brasil os militares se desdobravam para controlar manifestações públicas contra a Ditadura, mundo afora os atletas do país davam involuntariamente ao governo um prato cheio para usar as vitórias nas quadras, nos estádios e ringues como propaganda de tempos de glória. Referências em suas respectivas modalidades, Amaury Pasos, Aída dos Santos e Éder Jofre, entre outros, tiveram seus feitos associados à imagem de uma nação unida e em crescimento.

Carmen Lúcia Soares, professora especializada em História da Educação Física da Unicamp fala sobre o momento em que o esporte tomou importância para o regime. “No final dos anos 1960, inicio dos 1970, o governo, sob o comando de Médici investe na disseminação da Educação Física e do esporte. Dentro dessa política a escola se coloca enquanto instituição central. Um das primeiras medidas é a construção de um grupo de trabalho para estudar e propor medidas para a expansão da Educação Física e do Desporto no país”, explica.

Segundo Maria, neste período era responsabilidade do professor de Educação Física a formação das turmas de treinamento, ou seja, havia uma seleção em que os melhores de cada modalidade representariam a escola nas competições promovidas pela Secretaria Estadual de Esportes e Cultura, visando inclusive formação de uma elite esportiva no país para realizar propaganda do Regime. “Por conta disso ocorria a exclusão dos alunos menos hábeis das turmas de treinamento, os quais eram destinados as aulas de Educação Física pautadas na ginástica, gerando descontentamento e solicitações de dispensa das aulas por motivos diversos, tais como: problemas de saúde, trabalho, entre outros”, avalia.

Alguns esportes de destaque durante o regime

Basquete: Os Jogos de Tóquio 1964 foram o primeiro grande evento do gênero após a implantação do Regime e teriam grande importância para mostrar a valorização dos esportes olímpicos no novo governo. Nesse cenário, a Confederação Brasileira de Basquete era o elo perfeito para esse primeiro passo. Presidida pelo almirante Paulo Martins Meira desde 1938, a entidade contava com o time bicampeão mundial em 1963 e forte candidato ao pódio olímpico – ficaria com o bronze. Na época, o Basquete não possuía patrocínio, portanto, contou com o financiamento dos militares.

Boxe:

Recém-sagrada bicampeã mundial em 1962, a seleção brasileira de futebol era o carro-chefe da propaganda de esportes do governo ditatorial que chegaria ao ápice com a Copa de 1970 e a música “Pra frente Brasil”. Mas os esportes olímpicos também viviam dias de grande apelo devido a uma boa safra de atletas. Entre os nomes de destaque, estava Éder Jofre. Atleta do Brasil nos Jogos de Melbourne 1956, o pugilista havia se profissionalizado no ano seguinte e conquistado seu primeiro título mundial no início da década de 1960.

Professor de História do Brasil Republicano na UFF e na UFRJ, Marcus Dezemone, lembra-se de ver a imagem de Éder ser utilizada como símbolo de sucesso do país, mas ressalta o cuidado que o governo tinha para que esta associação fosse indireta: sugerida, mas não oficializada.

“O Regime oficialmente não usava os atletas como propaganda política. Mas empresas estatais e privadas do período se apropriaram desse poder do ufanismo que envolve o esporte. Eu me recordo de peças publicitárias que usavam as imagens de boxeadores, como Éder Jofre, e de esportistas bem-sucedidos em geral, com uma publicidade que se assimilava ao modelo empregado pelo Regime. E, claro, o uso do futebol para isso era muito emblemático. A imagem de Éder dando suas luvas da conquista para o presidente Médici ficou marcada”, conta.

Ex-aluno da Escola Estadual Castelo Branco localizado na cidade de Trindade no estado de Goiás, Heitor Medeiros, conta que ele não gostava de fazer esportes, mas era obrigado porque o governo queria pegar os melhores alunos para usar de propaganda. “Na época tão conhecida da palmatória, aluno que se recusava a praticar educação física apanhava e ficava de castigo na sala. Nós tínhamos que mostrar nossos dons dando o melhor. Esportistas da época tinham uma vida melhor”.

Já para Juscelino Amadeus, ex-aluno da Escola Municipal Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco na cidade do Rio de Janeiro, ter aula de educação física era uma tortura. “Os meninos não se juntavam com as meninas, não eram nos mesmo horários de aula. Tínhamos que voltar em outro período e se seu uniforme não estivesse impecável, você era dispensado e levava punição”.

A prática da educação física mudou muito desde a época da Ditadura. Porém alguns reflexos ainda são vistos nas escolas públicas ou privadas atuais.

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