Feminismo: uma herança deixada por nossas mães e avós
Thaís Oliveira
A vida das mulheres nunca foi fácil, desde a inserção no mercado de trabalho, até a luta pelos seus direitos durante o período da Ditadura. Elas, que nessa época significavam mais de 50% da população, foram oprimidas, torturadas, perderam o direito ao próprio corpo e muitas nem sobreviveram para contar história. Segundo dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV), as mulheres representam 11% do total de mortos e desaparecidos no período da Ditadura, o que certifica envolvimento do sexo feminino nessa época de “chumbo”.
A geóloga Valéria Perales, ainda estudante quando a ditadura começou, fala do medo e das incertezas da época. Ela acreditava que a melhor maneira de ter um futuro promissor e com liberdade era indo contra ao que foi imposto pelo militarismo. “Apesar do medo, a vontade de mudar era grande e sentíamos a nossa importância, enquanto mulheres e estudantes, de nos envolvermos. Estávamos pensando no nosso futuro. Toda a sociedade no geral tinha vontade de ser contra tudo o que era reprimido, então foi a época mais libertária que já houve”, enfatiza Valéria.
Mas não foi tão fácil, sair às ruas e defender os seus direitos, uma vez que a mulher dessa época se restringia ao papel de mãe, esposa e dona de casa. Esse condicionamento foi imposto pelo sexo masculino, que era visto como o sacerdote do lar e todos os tipos de decisões e transações políticas eram designados somente a eles. A voz da mulher não era ouvida, ela era uma personagem silenciosa na sociedade.
Segundo a socióloga Tânia Marins, essa imparcialidade feminina nas atividades sociais e políticas, dos anos 60 e 70, acabaram gerando uma insatisfação que provocou o despertar de muitas mulheres nas lutas desse período. “A mulher estava cansada de ser um sujeito imparcial no que condizia aos movimentos políticos da época. Como integrante da sociedade, ela queria ter participação ativa, além de descobrir que poderia lutar pela redemocratização do país e por direitos iguais aos dos homens”, comenta Tânia.
A partir do ano 1975 surgem oficialmente os movimentos feministas no país. Período em que muitas mulheres cansadas da violência e abusos sofridos pelo regime político começam a discutir e a aderir ao feminismo. Ele nasce para tentar combater à Ditadura Militar, com um forte viés marxista. O surgimento da imprensa feminina e a libertação sexual foram excelentes muletas que favoreceram os movimentos feministas da época. Esses movimentos começaram para derrubar o Regime Militar, mas em seguida sua crítica foi mais adiante, contra a Ditadura do corpo, o autoritarismo, entre muitas outras questões.
As marcas desse período de lutas são claramente vistas na sociedade atual. Hoje as mulheres ocupam espaços antes ocupados somente por homens, têm direitos nunca tidos antes e desfrutam da herança deixada pelas mães e avós, que corajosamente se levantaram, saíram do conforto de seus lares e foram às ruas para combater e alcançar os seus objetivos. Muitas mulheres continuam indo às ruas, no Brasil e no mundo, levantando com força e audácia a bandeira do feminismo.