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Liberdade em jogo

Na década de 80, o time do Corinthians mostrou ao Brasil que a democracia existe e pode dar resultados


Guilherme Constante


Todo o corintiano se orgulha ao dizer que seu time é o time do povo. Essa frase nos remete a democracia, afinal, o que é do povo é de todos. Foi com esse princípio que surgiu a Democracia Corinthiana.

No ano de 1981, estudantes, artistas e estudados do Brasil estavam perto do fim da Ditadura Militar no País. A campanha Diretas Já! ganhava força de um povo com sede de justiça e igualdade de direitos. E é bem nessa época que o time do povo toma uma decisão peculiar e ousada: ser democrático!

O Corinthians vinha de uma fase muito ruim dentro de campo. No início da década de 80 o time não entrosava e nem esboçava uma reação. Com uma mudança na diretoria, Adilson Monteiro Alves foi eleito o diretor de futebol e revolucionou a política interna do clube. Ele deu espaço e importância igual aos jogadores, diretoria e até aos funcionários. Todo o grupo decidia as contratações, horários de viagens, mudanças na diretoria e todas as decisões. Até a concentração, antes das partidas, foi abolida por decisão democrática.

Isso se refletiu dentro de campo. Roberto Rodrigues, 53, torcedor fanático do Corinthians e integrante da torcida organizada Gaviões da Fiel, na época, afirma que a decisão deu resultado. “Fomos campões estaduais em 1982 e 1983. Os jogadores sabiam o que queriam e tinham voz dentro do clube, por isso jogavam conscientes de sua integridade e segurança diante da diretoria”, relembra o torcedor.

Osvaldo Luis, jornalista da EPTV e apresentador do Globo Esporte para a região de Campinas (SP), conta que o principal argumento a favor da Democracia Corinthiana foi a conquista do bicampeonato paulista. “Essa é a prova de que o movimento deu certo, se os títulos não viessem, toda a campanha teria sido um fiasco aos olhos do Brasil”, ressalta Osvaldo. Alguns jogadores eram contra o movimento, como o goleiro Emerson Leão, que afirmava que a Democracia era privilégio de alguns.

Leandro Oliveira, professor de jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), destaca que durante essa fase do timão, o estádio de futebol também passou a ser um local de reflexão da sociedade. “Os grandes estádios construídos na época tinham o apoio do governo com a intenção de entreter as pessoas, fazendo com que elas não refletissem nas questões políticas. Com a Democracia Corinthiana, a torcida foi tocada nessa questão nas arquibancadas”, enfatiza o jornalista.

O exemplo do Corinthians democratizado mostrou que os jogadores marcaram época fora das quatro linhas. Sócrates e Wladimir, jogadores mais politizados do elenco, lideraram o movimento e se tornaram figuras próximas da sociedade que estava prestes a conseguir votar para presidente.

Com a supervalorização do dinheiro no meio futebolístico, atletas (humanos) são tratados como peças (objetos). O povo que queria libertação da Ditadura viu no clube paulista a democracia acontecendo e escrita na camisa da equipe. “Foi marcante pra mim. Dentro do estádio eu me sentia parte da ideologia do timão, pois queria liberdade também”, afirma o torcedor Roberto.

A cobertura da mídia durante essa época dizia que a Democracia Corinthiana causava desordem e indisciplina no ambiente do time paulista. Talvez hoje, essa atitude por parte da diretoria alvinegra causaria espanto e fracasso, mas em 1982 a realidade foi outra. A equipe corinthiana conquistou dois títulos e a marca de time de todos.


Veja as fotos dos personagens do movimento Democracia Corinthiana: FOTOS

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