Uma mulher de garra
Mesmo sem uniforme, sapatilha e técnico consegue vencer as dificuldades sendo grande destaque no atletismo
Rúbia Alves
Nascida e criada no Morro do Arroz, em Niterói, Aida muitas vezes não tinha o que comer e ainda apanhava do pai embriagado. Indo contra a família, que achava que esporte não era coisa para mulher. Praticou vôlei e atletismo, mas deu prioridade ao último. Teve dificuldades na infância, mas o esporte abriu todas as portas.
Não teve o apoio do pai no início, pois não ganharia nada com a prática esportiva. Ele a proibiu e ela teve que participar das primeiras competições, levadas às escondidas por uma colega.
Sua amiga competia e ela também, à sombra da amiga, para o pai não saber. Até bater um recorde no colégio e se decidir pelo atletismo, deixando de lado o vôlei. Foi após bater um recorde sul-americano, que Aida começou a dobrar a resistência do pai.
Foi no atletismo, na modalidade salto em altura, conseguiu quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio,em 1964,até hoje o melhor desempenho feminino individual no atletismo do Brasil em Olimpíadas.
Mas as dificuldades não se restringiram à família. Aida também enfrentou barreiras fora de casa por ser mulher e negra. Nas Olimpíadas de 1964, competiu sem uniforme, sem sapatilha de salto em altura e até mesmo sem técnico. Só competiu porque conseguiu a doação de uma sapatilha de corrida de 100 metros.
No México, em 1968, chegou a competir com a perna machucada por não ter acompanhamento médico. Antes dos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, foi cortada da equipe, mesmo tendo índice para participar.
Mas Aida não desistiu. Além da boa colocação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, conquistou na disputa do Pentatlo duas medalhas de bronze em Jogos Pan-Americano: em 67, em Winnipeg (Canadá) e, em 71, em Cali (Colômbia).
Além destes, Aida alcançou inúmeros outros títulos sul-americanos, nacionais e regionais, em várias categorias do atletismo. Das pistas para ensinar prática esportiva. Ela foi técnica de equipes de vôlei, natação e atletismo, incluindo a direção de Atletismo do Botafogo de Futebol e Regatas, e professora universitária.
Em 2006, viveu duas fortes emoções: em setembro inaugurou o Instituto Aida dos Santos e em dezembro recebeu do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) o Prêmio Adhemar Ferreira da Silva, uma das homenagens máximas da Instituição conferidas aos considerados exemplos como atletas e cidadãos dentro do esporte brasileiro.
Hoje, transmite toda a experiência e ensinamentos pessoais e profissionais adquiridos ao longo dos anos para alunos do Instituto que leva seu nome.