Ditadura no papel
Natália Anseloni Nista
O Projeto Brasil Nunca Mais foi desenvolvido por um grupo de religiosos, no ano de 1979. O principal objetivo era obter junto ao Superior Tribunal Militar (STM), localizado em Brasília, informações e evidências sobre as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar. Todo esse conteúdo seria publicado em um livro-denúncia.
O Reverendo da Igreja Presbiteriana, Jaime Wright e o Cardeal da Igreja Católica, Dom Paulo Evaristo Ams, iniciaram o projeto em São Paulo. Grande parte do projeto foi financiado com ajuda do secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Philip Potter e do pastor Charles Roy Harper Jr.
Segundo Magali Cunha, membro da Comissão Nacional da Verdade, as igrejas atuaram de duas formas: por meio de lideranças e fiéis que apoiaram e colaboraram com o regime através de delações de seus próprios membros ou com a disseminação de conteúdos de suporte; e por meio de lideranças e fiéis que se opuseram e resistiram ao governo, muitos desses pagaram o preço com a própria vida.
Magali afirma que o Projeto Brasil Nunca Mais é extremamente importante para o nosso país, pois ele expõe as graves violações dos direitos humanos (tortura, execução sumária e ocultação de cadáveres) promovidas pelo governo militar e torna possível conhecer esta história por meio de documentos oficiais resguardados daquele período.
“A população brasileira não tem só direito de conhecer a verdade sobre o que ocorreu nas prisões do Brasil naquele período, como deve aprender com esta história para superar graves violações dos direitos humanos promovidas ainda hoje pelo aparelho repressivo das polícias”, completa.
O Ministério Público Federal é responsável por organizar, hospedar e manter no ar o Projeto Brasil Nunca Mais Digital, para que toda a sociedade tenha acesso.
De acordo com Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, para que o projeto funcione é preciso que o estado se aproprie deste material em torno de políticas públicas de educação, levando-o às escolas, para que professores e alunos possam estudar e compreender o que se passou no país durante os anos de chumbo: “Somente disponibilizá-lo, apesar de ser um grande e importante passo, sem uma ação pedagógica não é suficiente, ele torna-se mais um entre milhões de documentos na internet”.
Zelic diz que o Projeto Brasil Nunca Mais Digital, é uma ferramenta pedagógica que viabiliza o estudo desta época, para que não se repita o que aconteceu na ditadura. “Um povo que não conhece sua história tende a repeti-la, mas esta repetição em muitos aspectos, se dá como uma continuidade de praticas que nunca foram rompidas”, conclui.
A Comissão Nacional da verdade, irá, até dezembro de 2014, apresentar o relatório que revela quais foram as graves violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado, a identificação e o número de vítimas, quem autorizou e comandou as ações, quem financiou o aparelho da repressão. Para desenvolver o relatório, há 13 grupos de trabalho pesquisando 13 temas relacionados a estas questões.
O conteúdo deste relatório está à disposição no site www.cnv.gov.br. Já o Projeto Brasil Nunca Mais Digital encontra-se disponível no site: http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/