Vencedor sim, livre não
Juliana Zanlorenzi
O boxe é um esporte de combate no qual os lutadores precisam se defender e atacar utilizando somete o punho. Surgiu no final do século XVIII e começo do XIX e até hoje ganha notoriedade entre os amantes de luta.
No ano início da década de 1960 o Brasil teve um grande pugilista que fez história. Seu nome? Éder Jofre. O atleta ganhou diversas lutas entre 1960 e 1965.
Em 1970 durante a presidência do General Medici, no auge do milagre econômico brasileiro, foi tratado como ídolo. Em 1973 foi campeão mundial do Conselho Mundial de Boxe contra o cubano José Legra numa categoria superior na qual ele começou.
Quando ganhou o cinturão ele dizia estar pronto para cumprir a promessa de depositar as luvas com as quais lutava no túmulo de sua mãe, Dona Angelina, que havia falecido dois anos antes. Mas ele não conseguiu cumprir por inteiro sua promessa.
Filho do boxeador, Marcel Jofre conta que seu pai teve de entregar uma das luvas ao presidente e só ficar com uma. “Meu pai foi orientado a entregar as luvas da vitória par ao presidente Médici. Meu pai negou e foi meio coagido a mudar de ideia. Ele entregou a luva direita ao presidente e a esquerda foi para minha avó”.
Marcus Dezemone, professor de História do Brasil Republicano na UFRJ, afirma que ele era o homem propaganda do país. “Jofre não foi diretamente usado pelo Regime, mas sua imagem era importante para vender produtos e difundir ideias, princípios que até hoje são levados em consideração na escolha de personalidades como esportistas em comerciais”.
Quando questionado sobre o porquê de Jofre ter que entregar a luva, Dezemone explica que se deu pelo fato do país estar em Ditadura. Nenhuma pessoa tinha total liberdade sobre suas ações. Pelo fato de ele ser o garoto propaganda do esporte, ter a luva dele era de grande valia.
Outro boxeador que sofreu problemas com a Ditadura foi Osvaldo Orlando da Costa, Osvaldão. Costa nasceu em Passa Quatro (MG) e ainda jovem foi para o Rio de Janeiro. Foi campeão carioca de boxe pelo Vasco da Gama na década de 1950. Abandonou a carreira em função de cursar engenharia em Praga, na antiga Checoslováquia, onde viveu alguns anos.
Com treinamento na China, em 1960, se tornou membro do Partido Comunista Brasileiro (PCdoB). Costa se alistou com o objetivo de implantar uma guerrilha. Foi o primeiro a chegar à região do Araguaia, sul do Pará, onde atuou como garimpeiro e mariscador.
A disciplina e coragem fizeram de Costa comandante do Destacamento B, cargo que exerceu até sua morte. Um dia andando numa roça de milho, foi surpreendido por um grupo de soldados. Ele estava sem arma, nu, sem munição e faminto. Levou um tiro de espingarda no peito e morreu ali.
Após sua morte, foi amarrado pelos pés em um helicóptero e exibido como um troféu à população que o apoiava. Depois teve a cabeça cortada e até hoje seus restos mortais nunca foram encontrados.